Jacques DeMolay, O Mártir Templário.

Jacques DeMolay, O Mártir Templário.
Jacques DeMolay, a capa de um dos fascículos.

Fabrício Grellet é um correspondente de longa data. Roteirista-fundador da Magic Eye Studios em São José dos Campos, SP, e batalhador constante dos quadrinhos nacionais, Grellet se aliou à agência ArteOfício; ao psicanalista Leandro Mascarenhas e à pedagoga Elizabeth Vianna, para criarem uma série de 12 revistas coloridas em quadrinhos chamada “Jacques DeMolay, O Mártir Templário”, o último Grão-Mestre da Ordem dos Templários (1244 – 1314).

Mas quem foram os Templários e o que foram as Cruzadas?   

Cruzadas foram movimentos militares ocorridos entre os séculos XI e XIII – com os Templários, uma ordem de cavalaria religiosa – objetivando reconquistar a Terra Santa, Jerusalém (o que fizeram em 1099), e proteger os peregrinos ocidentais que quisessem visitar a cidade sem o perigo de serem furtados. E é neste ponto que abrimos mão das questões religiosas ou atos de heroísmo para nos ater à comparações com o momento atual. Os templários seriam uma espécie de milícia religiosa que estava em uma guerra santa contra os “invasores” muçulmanos, considerados inimigos do ocidente e de Cristo. Inclusive, há uma boa parcela daqueles que ainda hoje acreditam que alguma dia este confronto entre ocidente e oriente voltará a ocorrer. E pelos mesmos motivos…

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Mas como eram bancadas essas viagens? Só para citar o exemplo mais notório, os astutos comerciantes venezianos e genoveses objetivavam controlar as rotas comerciais entre Ocidente e Oriente. Assim foi fundado o capitalismo, tal como conhecemos hoje.  

A capela Temple Church em Londres, construída em 1185, foi um banco templário. O primeiro banco de Londres. Os peregrinos deixavam lá o seu dinheiro que recuperavam após retornarem de Jerusalém. Esse era o negócio… Aliado a uma rede poderosa de toma-lá-dá-cá que incluía o papa, e os reis de quase toda a Europa.

Mas houve outro importante personagem: Saladino, o líder curdo muçulmano que obteve a sua primeira grande vitória contra os Cruzados em 1179. Não sem vários reveses e decisões polêmicas como decepar seus prisioneiros e tornar vários deles escravos. E oito anos após essa conquista, o líder muçulmano conquistou a maior parte de Jerusalém, mas não sem algumas reviravoltas, e inclusive com acordos cavalheirescos com Ricardo I de Inglaterra.

Jerusalém foi perdida para os muçulmanos em 1244.  Anos depois, um nobre francês chamado Jacques DeMolay (1244 – 1314) entra na Ordem dos Cavaleiros Templários em 1261 com 21 anos, até tornar-se Grão-Mestre em 1298. E tendo tropas a comandar, DeMoley escolhe a ilha de Chipre, ainda um local cristão, para prosseguir com as investidas militares, mas não obtendo sucessos ou conquistas, e tendo perdido Chipre em 1303, a realeza e o papado voltaram-se contra eles. Os cristãos haviam sido expulsos do oriente. E alguém teria que pagar a conta…

E como versa a História, o fim da Ordem em 1312 ocorreu por causa de reis devedores que fizeram de tudo para não saldarem suas dívidas. O rei Felipe 4º da França (O Belo) era um dos que deviam e que se preocupava com o poder econômico e militar da Ordem. Mesmo sendo amigo de Jacques DeMolay, o rei não o perdoou, comandando ele mesmo um ataque aos Templários em 1307, o primeiro deles, para que os religiosos confessassem heresias – sob tortura. Traído, DeMolay permaneceu preso durante sete anos até quase ser libertado, mas não sem antes uma última interferência do rei Belo. Como havia uma possibilidade de Moley ser absolvido pelo papa, Felipe 4º antecipou-se ordenando o sequestro de Jacques DeMolay e de Godofredo de Charnay para que fossem queimados no centro de Paris, em uma ilha no rio Sena.

“Todos vocês serão amaldiçoados até a 13ª geração” teria dito DeMolay entre as chamas.

Equipe dos quadrinhos: Fabrício Grellet (roteiro), Silvio Spot e Arthur Garcia (arte), Carolina Pontes (cores), Thiago Camargo (letras), Maxwell Ferreira (diretor de criação) e Fabiano Chedid (editor).

Aos interessados nos quadrinhos: atendimento@grupoarteoficio.com.br

https://www.comicsdemolay.com/ecommerce/como-comprar/

Campanha para A revista TUPINAMBAH 2, CD e LP.

Campanha de 15 de junho a 15 de agosto para CD LP Pandemia da Dorsal Atlântica e Revista Tupinambah 2.

(de 15 de junho a 15 de agosto de 2020)

www.catarse.me/dorsalpandemia

Iniciamos em 15 de junho de 2020 a campanha para a gravação e prensagem do novo trabalho da banda Dorsal Atlântica chamado Pandemia. Além dos CDs, camisetas e LPs, a segunda edição da revista Tupinambah está na campanha juntamente com o CD/LP.

A Tupinambah 2 contém uma história única chamada Estado de Exceção, que se conecta à Pandemia na análise da conjuntura nacional através de distopias inspiradas em Revolução dos Bichos e 1984 do escritor George Orwell.

Em Brazilândia, uma sociedade dividida entre os reis equinos, o povo canino e os símios militares, um jumento é eleito como Primeiro Ministro através de um golpe. O eleito infecta a população com o vírus da ignorância e seus fanáticos seguidores destroem terreiros de Candomblé e incendeiam laboratórios, faculdades e livrarias em nome do Deus Sumé.

Link da campanha: www.catarse.me/dorsalpandemia

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=-K3PFuM_6IY

Ziraldo e a turma do pererê

Li um anúncio pago do facebook sobre o filme A Turma do Pererê.doc a respeito da obra do cartunista Ziraldo. Mas ao reler com atenção, percebi não ser uma película sobre a vida do artista, mas sobre uma obra em particular: A Turma do Pererê, a primeira revista colorida de quadrinhos de um autor brasileiro, que nasceu com o conturbado governo do Presidente João Goulart e que foi “acabada” um mês antes do golpe militar de 1964. Tenho lembranças fortes sobre a versão da Turma do Pererê reeditada – com capa dura – na década de 1970. Comprei, não entendi nada – assumo –, mas o cheiro do papel, o traçado único, os temas nacionais e as cores fortes (sem contar as psicodélicas onomatopéias) me marcaram profundamente. E já escrevi aqui antes, que apesar de adorar Neil Adams, Joe Kubert e Jack Kirby, nunca gostei de super heróis. Então, personagens que protegiam a natureza ou que batiam em Romanos me pareciam mais interessantes – e eu nem sabia o que era ecologia ou imperialismo…

Curiosamente, o documentário aborda um tema interessantíssimo: a dicotomia entre Ziraldo e Maurício de Sousa. O segundo, ainda desconhecido, veio ao Rio nos anos 1960 pedir ajuda ao Ziraldo que recomendou-lhe redesenhar 4 tirinhas do Pererê. Os desenhos foram feitos, o que não deu em nada. Quando Sousa voltou para São Paulo recebeu um baita esculacho da esposa porque havia perdido o nascimento de sua filha Mônica! Décadas passadas, todo mundo conhece a Mônica e quase ninguém conhece a Turma do Pererê – apesar das temporadas exibidas pela antiga TV Brasil em 2002 e 2004.

E sobre esse assunto, arte “que pega ou não”, li aqui mesmo no facebook que um dos artistas que já trabalhou com Ziraldo reclamou – no bom sentido, creio – que infelizmente o mineiro de Caratinga nunca foi capitalista como o Maurício. A Turma do Pererê pode não ter “dado certo” para alguns que só crêem no palpável, mas em minha alma e na de muitos, deu certo demais. E como deu!

Sou da geração que conheceu o Saci nas obras de Monteiro Lobato e que assistiu nos anos 1970, o Sítio do Picapau Amarelo na TV. Era um personagem do mato que adorava confundir as pessoas, fazê-las se perder… Mas o Saci de Ziraldo era bem diferente. Além de ser mais consciente, ele tinha uma perna no meio do corpo! E engraçado como eu via isso no desenho, mas não entendia! O Saci da Mata do Fundão de Ziraldo, corria muito, tanto que andava dentro de um tornado!

Hoje, com a carcaça “mais dura”, entendo bem que há arte para massas e “outra” para quem consegue entendê-la – sempre a minoria. Ziraldo era considerado comunista em 1964 e foi perseguido até que ao se juntar à galera do Pasquim aconteceu o inevitável: cadeia. Mas alguém sabe o nome de quem o prendeu? Esse já foi para a lata de lixo da história, mas Ziraldo, artista supimpa e supremo, não.

Dois adendos:

No primeiro parágrafo escrevi sobre ir ao cinema assistir Ziraldo. Fui, gostei do filme, mas é importante acrescentar que havia 4 pessoas na sala…

Ainda tenho algumas poucas revistas sobreviventes da década de 1970 e uma delas é uma Mad especial preto e branca que vinha com uma reprodução colorida da Mad dos anos 1950 encartada. Nas páginas centrais preto e brancas há os cartuns de um artista brasileiro – apelidado de “brazilian nut”… É fácil saber quem é.

A Turma do Pererê.doc. Direção de Ricardo Favilla para a O2 Play Docs, produtora cuja intenção é lançar mensalmente um filme brasileiro em 20 cinemas selecionados.

EUGÊNIO COLONNESE & SERGUEI, O DESENHISTA E O ROQUEIRO, TÃO DIFERENTES E TÃO IGUAIS.

Desde priscas eras, o cartunista Márcio Baraldi tem sido um militante pela preservação da memória dos quadrinhos brasileiros. Começou entrevistando figuras exponenciais – uma lição que toda jornalista conhece: entreviste enquanto é tempo – no Bigorna.net para em seguida prensar as entrevistas em DVD. Alguns ainda questionam a validade da mídia física, livros, CDs e DVDs como se esses formatos não pudessem conviver em paz com as “nuvens”. Renegam o investimento feito em cada um desses lançamentos, seja criando, gravando, editando, prensando e distribuindo. Mas, Marcio, ainda bem, não está nem aí e segue em frente. E isso tudo sem contar como – ainda – é árduo estimular o público a adquirir produções nacionais.

Edy Star, Calanca da Baratos Afins, Marcio Baraldi e Serguei em Sampa (Foto: Bolívia e Cátia Rock)

O tema desta matéria versa sobre dois recentes DVDs da lavra Baraldina: “Na Cama com Serguei” (com sincronística participação do amigo e escritor carioca Paulo-Roberto Andel), o roqueiro-mor-carioca e “Sobrou Alguma Coisa no Tinteiro? – Vida e Obra de Eugênio Colonnese”. Aparentemente são duas figuras distintas. O primeiro, “roqueiro” e o segundo, desenhista. Mas ambos têm muito em comum.

E esta não é apenas uma resenha sobre dois DVDs, mas um texto sobre a vida.

Eu via Serguei em algumas e esporádicas participações na TV e o conheci pessoalmente nos anos 1980 na Rádio Fluminense em Niterói, quando ele havia voltado à ativa em palcos como os do Circo-Voador no Rio. Mesmo que te contem, só quem viveu a virada dos anos 60 para 70 do século passado é que pode ter noção do que foi e como era aquele período. A juventude se dividia entre os que haviam caído na guerrilha contra a ditadura e os alienados, vamos dizer assim, um grupo bem heterogêneo que somava o público de telenovela a cabeludos que viviam em um mundo paralelo. E digo isso porque vi pessoas talentosas se perderem em drogas e falta de noção. Por isso, se o mundo não te afaga, trace você mesmo o seu caminho com sua régua e compasso. Serguei e Eugênio mandaram ver e concretizaram sonhos. Serguei quis ser do rock e largou tudo, desbundou e apertou o botão do foda-se. Colonnese trocou a Itália pelo Uruguai e Argentina para depois desembarcar no Brasil em 1964 e virar mito (esse sim, não o outro).

E nos anos 80, de ônibus – de Niterói para o Rio – Serguei me contou que residia em um apartamento em Copacabana com a mãe idosa. Entendi o que ele havia tentado me transmitir, ou creio ter sido isso, que roqueiro no Brasil é um ser mais ambíguo do que Bowie, glitter como Sidney Magal e que aqui, drogas-sexo e rock and roll é só na quebrada do morro.

Marcio Baraldi e Serguei em São Paulo na Baratos Afins (foto: Leandro Almeida)

Em contrapartida, Colonnese era uma figura inacessível, um ídolo distante, um desenho de banca, até que pelas viradas que a vida dá, o neto dele se hospedou em minha casa há alguns anos e pude relatar ao jovem o quanto o avô dele havia me inspirado.

Não sei quantas histórias desenhadas pelo Colonnese li na vida, mas tenho uma memória afetiva muito forte, os traços limpos, claros, como nunca havia visto no país. E o que nos ligou, ainda mais fortemente, foi a história brasileira em 1972, no sesquicentenário da “Independência”. O governo militar havia lançado um filme sobre Dom Pedro I (filme que gosto até hoje), e os corpos de nossos imperadores retornavam ao Brasil. E somado a tudo isso, tive a oportunidade de comprar as obras de arte da editora EBAL, as quadrinizações de clássicos da literatura e de nossa história – oficial. E como esquecer o Dom Pedro primeiro desenhado pelo Colonnese?

Agora vamos às diferenças.

Serguei não se sente bem sendo brasileiro e o desenhista Colonnese não era brasileiro, mas adotou o Brasil como sua casa. Em uma visita à casa de Serguei em Saquarema, interior do Rio, em 2007, testemunhei que o vocalista deixava o canal Fox News ligado em alto som, o tempo inteiro. Perguntei o por que e ele respondeu: “Só gosto de ouvir inglês!”

Essa – grande – introdução se faz necessária, porque como músico e desenhista sinto-me conectado aos dois personagens de alguma forma. São referências próximas, de altos e baixos, humanos seres divinos, que como todos os artistas da vida, seja músico, ilustrador ou camelô, enfrentam a luta diária pela sobrevivência do corpo, alma e espírito.

Serguei é entrevistado na cama em sua casa-templo do rock por Rodrigo Barros, Janaína Storfe e Paulo-Roberto Andel entre imagens de santos, roqueiros e VHS. Depoimentos sobre Rock and Roll, o passado e a cena gay de Copacabana, entremeados pela bandeira do Fluminense e a cadela Elis. E além da entrevista, o DVD ainda traz um pôster; o bonito e cinematográfico curta “Serguei Íntimo” da cineasta carioca Luciana Cavalcanti; a biografia; discografia e uma galeria de fotos mais o show completo do Rock in Rio em 1991 no Maracanã em que o vocalista pôs toda a galera para sentar e ouvi-lo cantar Summertime.

No DVD sobre Colonnese, Marcio Baraldi entrevista familiares do artista, e pessoas que trabalharam com ele, sempre se dirigindo à câmera como um fã e não como um doutor, um acadêmico. É como uma conversa de bar em que paixões e comentários sobre os nossos artistas favoritos são ditos sem a rispidez e a agudeza das espadas. Não há edições profissionais feitas com verba, mas há empenho, necessidade premente de ter um registro, de mostrar aos garotos que idolatram a Marvel e a DC que tivemos a D-Arte, a Opera Graphica, e a Bloch, entre tantas editoras que investiram pesado em histórias nacionais. Por isso, “Tinteiro” é uma ode à paixão, um elogio amoroso à prancheta, ao nanquim, ao papel, e principalmente a produzir com talento e eficiência. Esta é a lição que o mestre Colonnese nos deixa. Amou, foi amado e distribuiu o amor através de milhares, milhões de páginas que queiram os bons espíritos, povoem a imaginação de outros tantos milhões.

A mensagem deixada tanto pelo desenhista como pelo roqueiro é simples e muitas vezes mal entendida: ame. Apenas isso.

Contatos: marciobaraldi@gmail.com